segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Hospital das Clínicas divulga imagens da 1ª cirurgia de separação de gêmeas siamesas em Ribeirão Preto

Irmãs do Ceará passaram por operação que durou sete horas e estão internadas na UTI da unidade. Meninas de 1 ano e 7 meses nasceram unidas pela cabeça e apresentam bom quadro clínico.

Por Rodolfo Tiengo e Thaisa Figueiredo, G1 Ribeirão e Franca

19/02/2018 20h27  Atualizado há 21 minutos

Gêmeas siamesas unidas pela cabeça são operadas no HC de Ribeirão Preto

O Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto (SP) divulgou nesta segunda-feira (19) as imagens da primeira cirurgia realizada para separar as gêmeas siamesas unidas pela cabeça. As irmãs Maria Ysabelle e Maria Ysadora são do Ceará, passaram pela operação no sábado (17) e seguem internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade.

Segundo a médica intensivista pediátrica Ana Paula Carlotti, que integra a equipe formada por 30 profissionais de diferentes áreas, as meninas de 1 ano e 7 meses evoluem bem e a previsão é que elas tenham alta da UTI nesta terça-feira (20).

“Elas estão com os parâmetros neurológicos normais, sem déficits neurológicos. Já estão se alimentando por boca, normalmente. Tudo corre muito bem e, por enquanto, sem complicações”, afirma.

A cirurgia no sábado foi chefiada pelo chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Machado, e teve a participação do médico norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto. Ela só foi possível por causa da uma parceria da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto com o Montefiore Medical Center, em Nova York.

O procedimento para começar a desconectar os vasos sanguíneos e expandir a pele na cabeça durou sete horas. A separação total das gêmeas só deve acontecer na última cirurgia, prevista para novembro deste ano. Até lá serão necessários outras três operações de preparação.

"Por fora, elas estão ligadas da mesma maneira. Mas, por dentro é que foram feitas as separações da vasculatura. Aparentemente, olhando para as crianças, parece que nada aconteceu, mas a gente já viu pelos exames de imagem que até o momento o que foi planejado foi muito bem sucedido", diz Ana Paula.

Segundo Machado, a família foi orientada a permanecer em Ribeirão Preto para o acompanhamento pós-operatório, mesmo após a alta da unidade.

Médicos e enfermeiros atuam na primeira cirurgia de separação das gêmeas siamesas em Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

Desligamento de veias

De acordo com o neurocirurgião Ricardo Santos de Oliveira, a primeira cirurgia ficou restrita à separação vascular das irmãs. Apesar de uma das meninas ser dominante em relação a outra, o médico explica que o tempo de recuperação, estimado em dois meses até o próximo procedimento, permite ao organismo de cada uma delas a reorganização das veias.

"Nós utilizamos um material como se fossem lâminas. Chama-se silástico, similar ao silicone e que nós já colocamos depois de realizada essa separação, já prevendo na última etapa, quando nós tivermos que retomar essas cirurgias. É para que não haja aderência através da cicatrização entre o que nós já fizemos", afirma.

Segundo o neurocirurgião, o planejamento em etapas reduz o risco na separação desses vasos. Para auxiliá-los, foi desenvolvido um molde tridimensional em acrílico, com as veias e as artérias das crianças reproduzidas fielmente. Mesmo o modelo feito em 2017, excluindo o crescimento das irmãs, permitiu a aplicação das técnicas estudadas anteriormente pela equipe.

"Nós conseguimos talvez uma separação vascular até mais promissora do que havíamos comentado anteriormente. Quando nós trabalhamos nesse quesito de separação de veias, um dos problemas que existe é você seccionar uma veia que seja dominante e que haja um represamento desse sangue."

Apesar de terem nascido unidas pelo topo do crânio, as irmãs não compartilham o mesmo cérebro. No entanto, a proximidade e o sistema vascular em partes interligado são considerados os fatores mais inquietantes para a equipe.

"Como elas têm uma anatomia muito diferente, seria muito interessante que a gente soubesse exatamente que áreas estão comprometidas. Esses exames que ainda estão em andamento são pra gente tentar desvendar isso, mas é impossível saber no momento quais áreas estão envolvidas", afirma Machado.

Ao centro, o médico americano James Goodrich, referência muncial em cirurgia de separação de gêmeos unidos pela cabeça Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

O caso

As meninas, naturais de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), a 35 km da capital Fortaleza (CE), são acompanhadas há um ano no interior de São Paulo por cerca de 30 profissionais, envolvendo neurocirurgiões, neurologistas, anestesistas, cirurgiões plásticos, intensivistas e enfermeiros.

O neurocirurgião Eduardo Jucá, responsável pelo acompanhamento das irmãs no Ceará foi quem as encaminhou ao hospital em São Paulo. Jucá foi aluno da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e especializou-se em neurocirurgia pediátrica.

Ele tomou conhecimento do caso das irmãs pouco tempo após o nascimento delas, quando as duas foram encaminhadas ao hospital onde ele atua como coordenador. Devido à complexidade, entrou em contato com a equipe do HC para articular as avaliações.

Para viabilizar as cirurgias, exames complexos de ressonância magnética feitos no HC foram enviados à equipe do neurocirurgião James Goodrich, no Montefiore Medical Center, em Nova York. Eles propiciaram a criação dos moldes tridimensionais que auxiliam a equipe na cirurgia. Goodrich dedicou a carreira a casos complexos como este e já realizou 20 cirurgias de sucesso pelo mundo.

De touca amarela e azul, o chefe da equipe, Hélio Machado, acompanha a cirurgia das gêmeas siamesas em Ribeirão Preto, SP (Foto: Divulgação/HC-FMRP/USP)

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